Simpatizantes assumidos
[por André Fischer]
Em uma conversa sobre aceitação de amigos gays, uma jornalista que muito admiro afirmou que nunca tocou no assunto com nenhum de seus conhecidos homossexuais. Quando lembrei a importância de receber apoio explícito de amigos heterossexuais, ela se mostrou surpresa e disse que nunca havia pensado nisso. A vida para os heterossexuais tem essa vantagem inegável. Eles não precisam nem pensar em uma série de questões com as quais gays e lésbicas lidam o tempo todo.
Será que os héteros, mesmo os mais simpatizantes, se dão conta dos detalhes do cotidiano que complicam a vida da maioria de gays e lésbicas? Ter que represar em público o afeto pelo ser amado. Ao terminar um romance, ser forçado a fingir que nada aconteceu. Ser obrigado a mentir o nome da pessoa por quem se está apaixonado. Habituar-se ao medo de ser flagrado em um bar que freqüenta. Não poder apresentar amigos à família. Viver eternamente com o estado civil inalterado. Ser vítima de uma das mais covardes manifestações de ódio, a violência homofóbica. Dissimular sua orientação sexual em entrevistas de emprego e, se for contratado, ter que criar toda uma vida fictícia para uso profissional. E por aí vai. Não se engane, fora do eixo Jardins-Centro existe pouco espaço para quem vive a vida completamente assumido.
Muitos que se consideram simpatizantes pelo simples fato de se divertirem na Parada Gay ou darem risadas com a “bi” cabeleireira deveriam entender que ser simpático à causa GLBT significa mais que isso. Ser desencanado com relação à sexualidade alheia e aceitar a máxima “cada um cada um” já é um avanço em uma sociedade pouco tolerante como a brasileira. Mas não é suficiente se você, hétero amigo, quer fazer a diferença.
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